sexta-feira, 31 de julho de 2009

Nem todo sol aquece. Nem toda comida é alpiste.

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Seu “Canjinho”, como é conhecido por todos, é o tipo bom de papo.
É motorista de uma kombi escolar e muito amado pelas crianças, o que já o credencia como uma boa pessoa.

Dono de uma memória privilegiada e chegado em estatísticas, sempre me surpreende com suas colocações.
Não confessa seu time nem sob tortura, embora todos saibam que é botafoguense.

-Isso só atrapalha.- afirma.
-Atrapalha por quê?- perguntei um dia.
-Cria relação, seu Zé, e ninguém esquece.
-Ah!- respondi, embora não entendesse bem.

Com o tempo entendi que tal opção estava relacionada a seus sonhos de juventude, tornar-se jogador profissional. Sonho no momento transferido para seu neto, que conforme ele, jogava bem e pretendia, contra sua vontade ir para o Matsubara.

-Matsubara! Que clube é esse?–perguntei sem fazer questão de esconder minha ignorância.
-Sociedade Esportiva Matsubara, no Paraná.
Intimamente, não pude deixar de concordar com seu Canjinho. Que futuro poderia ter um jovem em um clube tão pouco conhecido, me perguntei.

Seu Canjinho percebendo minhas mudas indagações, me explicou que os jovens hoje, pensam apenas no caminho mais fácil para sair do país.

-São como passarinhos- diz ele- em determinado período do ano migram em busca de calor e de alimento.

Sem me dar tempo de assimilar a analogia, emenda:
-Você sabia que no ano passado 1.176 jogadores saíram do país? E que este ano já foram 531 até a última publicação da CBF?

Não pude deixar de demonstrar espanto com os números, afinal esse era um ano de crise. Pelo menos, é o que diziam os entendidos no assunto.
Seu Canjinho, ignorando meu crescente espanto, seguiu despejando dados.

-Só para Portugal foram cinqüenta e dois atletas... Para o Japão trinta e tres, Alemanha trinta e quatro e para os Estados Unidos, vinte e um.

Embora cada vez mais surpreso com os números relatados, não podia deixar de pensar onde o Matsubara entrava na história.
Seu Canjinho então me perguntou:

-Você sabe quantos jogadores o Sãoo Paulo exportou este ano? E o Flamengo? Fluminense? Palmeiras?

Cada vez mais confuso, eu balançava a cabeça negativamente.
E ele, como se estivesse lendo uma planilha, foi falando:

-São Paulo dois, Flamengo cinco, Fluminense um, Palmeiras, três e Internacional seis. E o Matsubara? Sabe quantos jogadores o Matsubara vendeu esse ano?
E eu, que não conseguia parar de balançar negativamente a cabeça, apenas esbugalhei os olhos, mais ou menos prevendo o absurdo da resposta...

- Quinze! Quin-ze.- e complementou:
- Quinze este ano e oito no ano passado.
Bem, agora a opção do garoto começava a fazer sentido para mim, e fui obrigado a perguntar ao seu Canjinho, o motivo de sua insatisfação.

Ele então me explicou que estes números não significavam nada. Que havia muita diferença entre ser exportado por um clube de ponta ou por um clube não tão conhecido assim.
Para ele, deveria haver uma legislação mais voltada à proteção de jovens atletas.
Poucos são levados para uma vida realmente melhor. Os mais conhecidos, diz ele, têm seus contratos bem analisados, são orientados, ficam em contato com a mídia, vão muito mais protegidos. E ainda assim, conclui ele, muitos enfrentam sérios problemas quando querem voltar.

Mas, penso eu enquanto escuto, se o sonho é ir, voltar por quê?
Mais uma vez, como que lendo meus pensamento, seu Canjinho complementou:

- Seu Zé, já falei do número de jogadores que saem anualmente, mas o senhor sabe quantos voltam?- claro que eu não sabia.
Mas antes mesmo que eu respondesse, ele disse:

- Ano passado saíram 1176 jogadores e retornaram 659. Este ano, embora até o momento tenham saído 531, já retornaram 473.
Dito isso, olhou para seu relógio e viu que estava na hora de pegar as crianças.
E enquanto se despedia, percebendo meu olhar atônito, complementou:

- É seu Zé...Nem todo sol aquece. Nem toda comida é alpiste.

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31/07/2009

Parabéns a Família Marques pela chegada do bebê!




Parabéns também ao meu sobrinho azul Abilio que aniversaria hoje!
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

POR ONDE ANDAM?

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Sempre gostei do astral desta pracinha.

Crianças, adolescentes e adultos de várias idades se alternando em seus recantos preferidos. Momentos de pura espontaneidade.
Balanço, escorregador, campinho de futebol, mesinhas para jogar xadrez, damas e o “meu” banco. Este, estrategicamente colocado no vértice da pracinha, me possibilitando desfrutar de todos os ângulos.
Ângulos estes que na minha ignorância física e óptica, costumo chamar de ângulo de repouso ou ângulo de reflexão, dependendo do que me sugerem.

Hoje, no campinho de futebol, uma discussão entre dois Betinhos me levou a refletir.

Betinho Júnior, e no Júnior estava o problema, não aceitava ser chamado assim. Alegava que “Júnior” remetia a um ídolo flamenguista, coisa que seu espírito são-paulino não podia admitir.
O outro Betinho, flamenguista e por ironia não Júnior, tentava convence-lo a aceitar que assim o chamassem. Seria complicado dois Betinhos em campo, alegava o flamenguista.

-Quando alguém gritar Betinho, como saberemos quem “tão” chamando?- insistia ele.
Já o outro, presumindo uma carreira de sucesso, rebatia:
-Mas não quero que a torcida grite Júnior para mim. Quero Betinho!!!

Enquanto as vozes aumentavam e o nível baixava, não pude deixar de refletir sobre quantos Betinhos nosso futebol teve.
Embora minha memória já me traia algumas vezes, acredito que não foram muitos, e se foram, não foram tão importantes assim.

Mas ali, dois Betinhos”, preocupados em fazer sucesso, em jogar para a torcida e em manter um nome sem “pedigrée” algum, me faziam pensar onde andariam os grandes nomes como “Júnior”, “Pelezinho” e “Garrincha”, antigamente tão comuns nas peladas da pracinha e que gostavam mesmo era de fazer a bola andar...E não de blá, blá, blá.


































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quarta-feira, 8 de julho de 2009


SPORT CLUB RIO GRANDE
............."VOVÔ"



Foi no berço da civilização gaúcha, em meio a portugueses, espanhóis, alemães e italianos, que o esporte mais popular do Brasil deu seus primeiros chutes.

O alemão Johannes Christian Moritz Minnemann trouxe em sua bagagem a idéia de difundir na cidade a modalidade esportiva sensação na Europa: o futebol.

No dia 19 de Julho de 1900, junto a um grupo singular de senhores, composto por sobrenomes alemães, ingleses e portugueses, e com o apoio imprescindível de Arthur Lawson, Minnemann concretizou seu sonho, e fundou o Sport Club Rio Grande, o clube de futebol mais antigo do país.

Junto à euforia da novidade, toda uma estrutura foi montada, a fim de popularizar o esporte.

Os primeiros jogos aconteceram a partir do embate entre os próprios sócios, divididos em quadros, o Quadro B e o Quadro A.

A partir de infindáveis reuniões, foi-se aos poucos definindo as cores do clube (uma homenagem ao Rio Grande do Sul,estado que acolhia tantos estrangeiros), a captação de recursos, os jogos de exibição, entre outras decisões práticas.

Em 1911, erguia-se o primeiro Pavilhão, no Estádio das Oliveiras, palco dos belos jogos e de vitórias significativas. O Estádio foi construído com a colaboração dos sócios e com o apoio de toda a sociedade rio-grandina. O fogo que destruiu o Pavilhão em 1934 não destruiu o sonho. Pelo contrário, foi um impulso para a melhoria das condições físicas do clube. No mesmo local, um novo Pavilhão, agora de material, passou a abrigar os torcedores, que desde o início apoiavam e lotavam o Estádio para assistir as exibições do Tricolor rio-grandino.

Dentre as conquistas significativas, cabe ressaltar a Taça Centenário da Independência, conquistada em 1922, a conquista do Campeonato Gaúcho de 1936 e dos vice-campeonatos estaduais em 1941 e 1951, todos esses motivos de orgulho para o Sport Club Rio Grande.

Nesse mais de um século, o clube enfrentou todas as mazelas e glórias que se enfrenta numa caminhada longa. Criou ídolos, mudou conceitos, foi e é parte da vida de várias gerações de pessoas. O resgate e a manutenção dessa memória fazem parte do trabalho do Memorial. Nossa preocupação é manter vivo o espírito daqueles pioneiros que acreditaram num sonho e se dedicaram na construção de uma realidade que viria a tomar conta do país: o futebol.
Denise Veiga - Assessora de Imprensa S.C.Rio Grande

Curiosidades:
No Torneio Confraternização, em 1940, disputado entre os três times de Rio Grande, o Sport Club Rio Grande e o Sport Club São Paulo foram à final. Após vários jogos sem ser possível declarar o vencedor, decidiu-se serrar a taça ao meio, sendo cada metade enviada a um dos clubes da final.

................................................................... Taça Serrada
Jogador Antonio Isair Mattos Branco (Data de Nascimento: 14/07/1944):
" Quando disputei o torneio da morte, houve um jogo entre o Sport Club Rio Grande e o São José de Porto Alegre. Neste jogo foi marcado um pênalti pelo árbitro João Carlos Ferrari. Galego pegou a bola para fazer a cobrança. Cobrou...e o goleiro Joãozinho atacou. Com a felicidade no momento da defesa do goleiro, o jogador Baiano do São José abraçou o goleiro e retirou a bola de suas mãos, erguendo e mostrando para a torcida como se estivesse levantando um troféu, porém o árbitro da partida por considerar que o jogo ainda estava em andamento marcou novamente o pênalti, pois o jogador pegou a bola com as mãos. Logo após, na segunda cobrança Galego reverteu em gol, terminando o jogo com a vitória do tricolor pelo placar de 1 a 0."

" Em um amistoso entre Rio Grande e Pelotas no Estádio das Oliveiras em 1964, aos 20 minutos do 1º tempo,o centroavante Itajuba chutou a bola por cima da trave. Porém com o embalo de seu corpo, continuou a correr e empoleirou-se na trave que quebrou na hora, terminando com a partida uma vez que não haviam recursos para arrumar a goleira."
Jornal Folha Esportiva entrevista o jogador Schmitt em 19/07/1968:
Lembrou o seu Schmitt que no seu tempo a bola para jogo ainda era a rudimentar bola com tento. E todos, então, temiam tocá-la com a cabeça. O medo – justo, alias, - era do tento...
Aquela protuberância, que era uma enfiada de couro cru, evidentemente que, tocando na cabeça, devia doer um bocado. Mas o ‘’seu Schmitt’’ punha a sua gorrinha de lã e não rejeitava ocasião de cabecear a bola. Chegava até a defender a bola de cabeça coisa que todo mundo tinha medo de fazer. Agora, o segredo desta "coragem" do velho Oscar Frederico Schmitt, que ele mesmo revelou: um bom chumaço de algodão por dentro da gorrinha...
Outra passagem interessante por ‘’seu’’ Schmitt foi a de inglês, radicado em Rio grande, que depois de levar um drible pelo meio das pernas, aplicado pelo próprio ‘’seu’’ Schmitt, ao final do jogo foi para casa e lá queimou o seu fardamento abandonado de vez o futebol. Drible tomado pelo meio das pernas era a coisa mais vergonhosa e vexatória que se podia imaginar. E como cada jogador era dono de seu fardamento, pois era quem o pagava e quem dele cuidava, o inglês teve essa ‘’saida’’: Queimou o fardamento, e fim!...

Fotos Antigas:
Foto da partida entre o Sport Club Rio Grande e o Sport Club Internacional, pela final do Campeonato Estadual de 1936. Jogador do Internacional no ar com a bola.Placar: Sport Club Rio Grande 3 x 2 Sport Club Internacional.


Foto do descerramento da placa comemorativa à passagem do Botafogo Foot Ball Club, campeão carioca de 1930.A placa se localizava no Pavilhão Lino Neves, inaugurado em 18 de julho de 1948.


Foto das equipes do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e do Sport Club Rio Grande, em companhia do jornalista Arquimedes Fortini e do árbitro Mister Burrick, confraternizando antes do início do sensacional embate em 1950.Sport Club Rio Grande: Ettore, Carruíra e Getúlio, Hélio, Ribeiro e Vergara, Ramão, Adão, Vilmar (Geada), Villalba e Tipio.Grêmio: Sérgio, Clarel e Johni, Hugo, Verardi (Sarará) e Heitor (Danton), Apis, Clori, Balejo, Gito e Geada (Sano). Observem a roupa do árbitro!


Novo Uniforme:



Projeto arquitetônico do Sport Club Rio Grande:

.......................................................Projeto do Arquiteto Vicente Marsiglia Filho.

Atletas Riograndinos que passaram pelo clube:
Fruto, atleta símbolo do clube
Scala e Neca, ambos integrantes da Seleção Brasileira
Alcindo Martha de Freitas O Alcindo - Ex Grêmio/POA - Seleção Brasileira / 66.
Toquinho, oriundo das categorias inferiores, brilhou no futebol paulista, Portuguesa de Desportos.

Personalidades Riograndinas ligadas ao clube:
Renato Marsiglia, ex-árbitro brasileiro da FIFA. Adepto e associado do Clube e
Jaime Copstein - Jornalista da Rádio Gaúcha / POA

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domingo, 5 de julho de 2009

OPINIÃO DE JORNALISTA:


O texto abaixo foi publicado na coluna do jornalista Erich Beting, no site Universidade do Futebol, em abril deste ano:


"A força do microfone "
Decisões estaduais mostram a força da mídia no cotidiano do esporte; e ressalta o que há de pior nos veículos

Qual o poder de influência da mídia no dia-a-dia do esporte? Talvez a melhor resposta para essa pergunta seja a análise da cobertura da imprensa nos finais de semana após as decisões de títulos e vaga nas finais dos campeonatos estaduais pelo Brasil.

Começamos com a polêmica Leco-Ronaldo em São Paulo. Passamos pelo duelo verbal entre Palmeiras e Sport nas “decisões” da Copa Libertadores. E encerramos nas provocações baratas entre Cuca e a torcida do Botafogo no Rio de Janeiro.

O fato é que a mídia é a principal causadora de tanta polêmica. Em busca da “notícia”, muitas vezes um veículo exagera na dose e cria uma animosidade inexistente. Foi assim, por exemplo, quando deu-se grande cartaz para os 10% a que o Corinthians teria direito como visitante do primeiro jogo contra o São Paulo no ano.

A repercussão imediata da imprensa gerou um clima que, após a classificação alvinegra do último domingo, chega a beirar o insuportável. Porque a mídia inteira foi saber de Ronaldo o que o motivou tanto na decisão. E depois foi rebater com Leco, o dirigente são-paulino, a resposta atravessada na garganta do Fenômeno.

No caso de Palmeiras e Sport, a mesma história. Se não há conflito dentro de campo, vamos tratar de inventá-lo fora dele. Será que tudo correu bem na recepção ao Palmeiras? E o Sport, foi bem tratado no jogo em São Paulo? Sem novidades? Ok, então agora vamos nos preocupar em descobrir porque o Sport vence em Pernambuco e o Palmeiras patina em São Paulo...

O fato é que o microfone é gerador constante de polêmica. E o jornalista não consegue entender que, a cada vez que ele alimenta essa discussão, cria um clima beligerante para alguns duelos que acontecem sistematicamente no futebol.
São Paulo e Corinthians voltarão a se enfrentar. Como a imprensa vai se comportar às vésperas da partida? Qual o clima que ela vai criar para os atletas, dirigentes e torcedores que lá estarão?
Palmeiras e Sport têm, pelo menos, mais dois duelos agendados pelo Campeonato Brasileiro. Da mesma forma, Botafogo e Flamengo decidem nos próximos finais de semana o título estadual e posteriormente medirão forças no Nacional.

E, ao que tudo indica, a imprensa continuará a alimentar a discórdia. Para depois apontar o dedo atrás de culpados pela selvageria que se torna uma partida de futebol... O bom senso deveria ser matéria obrigatória nas faculdades de jornalismo e, mais do que isso, dentro das redações, ávidas por audiência e/ou vendas.
*Erich Beting é jornalista formado pela PUC-SP e especializado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan (SP). Começou a carreira como jornalista em maio de 2000, na editoria de Esporte da Folha de S.Paulo. Em abril de 2001 foi contratado para ser repórter especial do diário Lance!. Lá, realizou ainda as funções de colunista e de editor do site Esporte Bizz. Em abril de 2004 foi contratado para o núcleo de esporte da AllComm Partners Comunicação Estratégica, empresa de assessoria de comunicação e marketing.Em abril de 2005 criou a Máquina do Esporte, site voltado para a cobertura dos negócios do esporte, no qual exerce a função de editor executivo. É professor especialista do curso de pós-graduação em Administração e Marketing Esportivo da Universidade Gama Filho e, ainda, consultor da Universidade do Futebol.
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